sexta-feira, 23 de abril de 2010

O AMOR EM PLATÃO



Quando um qualquer amante tem a sorte extrema de encontrar a sua outra metade, ficam os dois tão intoxicados com afecto, com amizade, e com amor, que não suportam ficar sem se verem um único instante.

O amor dorme na terra nua, às portas das casas, ou nas ruas profundas por debaixo das estrelas do céu, partilhando sempre a pobreza da sua mãe… No espaço de um dia ora se revela vivo e brilhante, ora à beira da morte.

O amor é pobre, magro, mal apresentado, sem sapatos, sem domicílio, sem outra cama que a terra, dormindo sob as estrelas, sem cobertores, junto das portas e nas ruas, irremediavelmente miserável, imitando a sua mãe.

No mesmo dia, ao mesmo tempo, o amor é florescente, pleno de vida, e tudo o que é grandioso abunda nele, antes de desaparecer e morrer, antes de reviver de novo.

Como o pai, o amor está constantemente na pista do que é belo e bom; é másculo, empreendedor, robusto, hábil caçador que usa sem cessar o artifício; cioso do saber, usa todos os estratagemas para o ter, passando toda a vida a filosofar, encantador, mágico, palavroso.

Platão, 428-347 a.C., filósofo grego, O Banquete

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