sexta-feira, 21 de maio de 2010

AntiFreezer



Não sei como você consegue manter sua consciência e seus cabelos relaxados,
com tanta onda eletrostática,
e você sempre se achando idolatrado por todos os lados.
Meu currículo amoroso manchado,
minha alma abalada por ter sido um dia puxado,
pelas órbitas e ondas harmoniosas sob a forma de linhas,
esculpidas em seu corpo tatuado.
Raras indagações como essas virão,
principalmente quando “máscara” para pentear faltar,
e nas lembranças do ranger da cama, finalmente,
eu conseguir me ausentar.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Quando a Visita Não Bate a Sua Porta


Caro J.

Não há mais porque você sentir falta de cenários que sirvam de trillher para a sua vida, nem de lacunas eternamentes indefinidas e intermináveis.
 
Você sempre percebeu, mas nunca aceitou, que as minúcias da natureza do verdadeiro poder e do sucesso raramente rondaram até hoje sua pequena e pacata cidade; o que falar da sua vida?
 
Sem querer ser sarcástico, lembro-me que existia um mercado, onde principalmente nos domingos todos se aglomeravam com baldes plásticos, enchendo-os com frutas, verduras, queijos e pastéis.
 
No dia cinco do mês cinco, não me sai da memória, nesse mercado, o amontoado de cachorros querendo roer os restos de ossos jogados pelos açougueiros. Era uma multidão!

Não me leve a mal, mas todo o mercado exalava à açougue, e lá dentro estava você!
 
Agora sendo mordaz e cruel! como bem lhe conheço, se você tentasse algum dia - e conseguiria - "enxergar bem", veria (nesse dia cinco do mês cinco) a belíssima ilha de Santiago ameaçada; o nascer do grande Czar; o ressurgir de um grande manifesto; a morte de um dos maiores imperadores desse mundo e a grande libertação, após 21 meses de detenção; e o principal de tudo, seu futuro.
 
Apesar da relação conturbada com seus parentes, você sempre foi um bom exemplo de juventude, mesmo sendo cínico e cruel. 
 
Seus pensamentos, corriam como nuvens, no intenso ora cinza, ora negro; você suplicava que seu pai fosse executado em uma cadeira elétrica, igualzinha a do Texas.

Na sua pequena cidade, até mesmo os atos de desespero, como o sui caedere, nada tinha de impressionante como o Sati ou os kamikazes.
 
Visitei sua casa no dia sete do mês sete, mas você não estava. Fiquei triste, mas não decepcionado, porque apesar da distância física,a proximidade espiritual era evidente. 

Podia ver todos os seus movimentos. Intolerável o fato de que apesar de ter diminuido o fedor de carne no mercado, o mau odor crescera na pequena cidade que se estendera. 

A natureza continuou errante e instintiva, muito havia de vontade para o supérfluo, pouco para a conquista da virtude moral e da busca interna da felicidade. 
 
Espero lhe visitar em breve. Espero que consiga viver e entender que a virtude, e não o prazer artificial, é a meta da nossa existência, assim como alegria de uma amizade e uma companhia escolhida com sabedoria.
 
De seu estimado amigo A.

terça-feira, 11 de maio de 2010

MEDO UNIFICADOR



Tenho medo!
Medo quando sou bom, medo quando sou mal.


Medo de não reagir, medo de responder ferozmente ao perigo.
Portanto, tenho medo de lutar e de fugir.


Tenho medo de amar Heráclito e menosprezar os efésios.
Medo de ameaçar a vida, medo de me autopreservar...de me umedecer com o fogo, e abrasar minhas entranhas com água...


Há medo quando fico paralisado, e mais medo quando sinto que estou no controle.
Medo, pela minha capacidade precoce de discernimento, de ser capaz de causar danos reais, de provocar medo. Mais medo de destruir em mim o templo que nunca dediquei a Ártemis.


Tremo quando penso em minhas experiências anteriores negativas, e vejo nascer o medo por não conseguir discernir que elas não ocorrerão mais.


Qualquer coisa iminente e real mete medo.
A felicidade e a tragédia, ambas metem medo, e interferem na auto-estima, no amor-próprio e na autoconfiança. 


Pior é o medo de não conseguir materializar minha individualidade ou vontade, diante de um mundo que mete medo.


Com medo sou capaz de fazer chover intensamente, assim como florir o trigueiro dos campos.


Agora, sem medo, tento ver o que ele representa na minha vida. Amanhã, explorando o medo, não tenho como pensar em desistir de tudo e de todos. O medo me controla e eu controlo o medo.


O medo que me aprisiona é o mesmo que me liberta.