quarta-feira, 12 de maio de 2010

Quando a Visita Não Bate a Sua Porta


Caro J.

Não há mais porque você sentir falta de cenários que sirvam de trillher para a sua vida, nem de lacunas eternamentes indefinidas e intermináveis.
 
Você sempre percebeu, mas nunca aceitou, que as minúcias da natureza do verdadeiro poder e do sucesso raramente rondaram até hoje sua pequena e pacata cidade; o que falar da sua vida?
 
Sem querer ser sarcástico, lembro-me que existia um mercado, onde principalmente nos domingos todos se aglomeravam com baldes plásticos, enchendo-os com frutas, verduras, queijos e pastéis.
 
No dia cinco do mês cinco, não me sai da memória, nesse mercado, o amontoado de cachorros querendo roer os restos de ossos jogados pelos açougueiros. Era uma multidão!

Não me leve a mal, mas todo o mercado exalava à açougue, e lá dentro estava você!
 
Agora sendo mordaz e cruel! como bem lhe conheço, se você tentasse algum dia - e conseguiria - "enxergar bem", veria (nesse dia cinco do mês cinco) a belíssima ilha de Santiago ameaçada; o nascer do grande Czar; o ressurgir de um grande manifesto; a morte de um dos maiores imperadores desse mundo e a grande libertação, após 21 meses de detenção; e o principal de tudo, seu futuro.
 
Apesar da relação conturbada com seus parentes, você sempre foi um bom exemplo de juventude, mesmo sendo cínico e cruel. 
 
Seus pensamentos, corriam como nuvens, no intenso ora cinza, ora negro; você suplicava que seu pai fosse executado em uma cadeira elétrica, igualzinha a do Texas.

Na sua pequena cidade, até mesmo os atos de desespero, como o sui caedere, nada tinha de impressionante como o Sati ou os kamikazes.
 
Visitei sua casa no dia sete do mês sete, mas você não estava. Fiquei triste, mas não decepcionado, porque apesar da distância física,a proximidade espiritual era evidente. 

Podia ver todos os seus movimentos. Intolerável o fato de que apesar de ter diminuido o fedor de carne no mercado, o mau odor crescera na pequena cidade que se estendera. 

A natureza continuou errante e instintiva, muito havia de vontade para o supérfluo, pouco para a conquista da virtude moral e da busca interna da felicidade. 
 
Espero lhe visitar em breve. Espero que consiga viver e entender que a virtude, e não o prazer artificial, é a meta da nossa existência, assim como alegria de uma amizade e uma companhia escolhida com sabedoria.
 
De seu estimado amigo A.

2 comentários:

  1. Me visita gritando ao portãoo correio , o medidor de água e outras vezes o de luz. Me chamam o rapaz que troca o gás nos meses que são fortemente de consumo de fogão e há aqueles evangélicos de terno e gravata e bíblia na mão que me explicam de coisas & tal e salvação...São sinceros em seus serviços, honestos no que devem fazer e por que não?

    Mas, batem violentamente o portão: os moleques das escolas públicas com aulas vagas, os mendigos da pracinha ou senão... quando estou e nem quero receber um intruso ou invasor que ja sabem da direção da casa. Nessas horas prefiro por na porta uma placa: Não Pertube, me deixe na solidão,

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  2. Bem Austeano...Me parece que você leu Paul Auster a vida inteira...Se não o fez...beberam da mesma agua que corria no mesmo rio e rio nunca mais foi o mesmo...Adorei!

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